quarta-feira, 11 de junho de 2008

Uma experiencia com o quartzo


Já tínhamos dado a entender que de um ponto de vista experimental, nos estudos desenvolvidos em torno de problemáticas arqueológicas, trabalhamos sobretudo com quartzito, mas vamos fazendo umas experiências com quartzo. Ou melhor o Pedro Cura vai experimentando ainda timidamente de forma a adquirir prática no talhe desta rocha. Só apanhámos o resultado final …
Mas certamente que próximo será todo feito com o mesmo registo que aplicamos ao quartzito. Os métodos de registo que utilizamos são provavelmente discutíveis e disso falaremos num outro post. Por agora descrevemos a experiência do Pedro:

O seixo tinha uma morfologia regular e arrdondada, o talhe directo foi feito recorrendo de forma alternada a 3 percutores duros (quartzito) e 2 brandos de distintas dimensões (buxus sempervirens).


Duas impressões a registar:

A matéria prima responde de forma tanto mais controlável quanto mais o ângulo for fechado, já depois de uma perda de volume considerável e utilizando o percutor brando.


É imprescindível um controlo minucioso dos planos de percussão, o impacto tem de ser certeiro porque esta matéria prima facilmente estilhaça de forma incontrolável.

O biface levou cerca de 25 minutos a ser feito.




É considerável a quantidade de desperdício, sobretudo fragmentos inclassificáveis e de muito pequenas dimensões.


Os restos de talhes estão todos guardados se existirem voluntários para um exercício de remontagem são bem-vindos!



Para quem se interesse por esta matéria prima aqui vai uma muito breve lista bibliográfica:

Actes de L'exploitation du quartz au Paléolitihque. Table ronde No1, Aix-en-Provence , FRANCE (18/04/1996)

Bracco, J.-P. (1998): "Le Debitage du Quartz dans le Paleolithique Superieur d´Europe occidentale: Aspects Technologiques et Comportementaux." en: Lithic Technology. From raw material procurement to tool production. S. Milliken and M. Peresani (Ed). Forlì. 81-91.

Bracco, J.-P. y P. Morel (1998): "Outillage en quartz et boucherire au Paléolithique Supérieur: Quelques observations expérimentales" en: Économie préhistorique: les comportements de subsistance au Paléolithique. XVIIIe Rencontres Internationales d´Archéologie et d´Histoire d´Antibes. APDCA (Ed): 387-395

Chelidonio, G. (1990): "Preliminary approach to quartz crystals technology and its meaning as "Environmental Translation"." en: Le Silex de sa genèse à l´outil. Actes du Vº Colloque international sur le Sílex. Cahiers du Quaternaire 17.

Crovetto, C., M. Ferrari, C. Peretto y F. Vianello (1994a): "Le industrie litiche. La sperimentazione litica" en: Le industrie litiche del giacimiento paleolitico di Isernia La Pineta. La tipologia, le tracce di utilizzazione, la sperimentazione. C. Peretto (Ed). Isernia, Sigmastudio: 119-181.

Martínez Cortizas, A. y C. Llana Rodríguez (1996): "Morphostructural variables and the analysis of their effect on quartz blank charecteristics." en: Non-Flint Stone Tools and the Palaeolithic Occupation of the Iberian Peninsula. N. Moloney, L. Raposo and M. Santonja (Ed). Oxford, Tempus Reparatum. BAR 649: 49-53.

Mourre, V. (1996) « Les industries en quartz au Paléolithique - Terminologie, méthodologie et technologie », Paléo, n° 8, pp. 205-223.

Prous, A. y M. A. Lima (1990): "A tecnologia de debitagem do quartzo no centro de Minas Gerais: lascamento bipolar." Arquivos do Museu de História Natural da UFMG XI (1986-1990): 91-114.

Workshop de tecnologia lítica, Experimentação e Estudos Funcionais


Vila Nova da Barquinha e Mação
24 a 28 de Agosto de 2008


(mediante a apresentação de um relatório final os formandos podem receber 3 ECT’S)

O objectivo principal deste Workshop é discutir as actuais problemáticas e perspectivas teórico-práticas que se colocam no estudo de indústrias líticas, em particular nas suas vertentes de experimentação e estudos funcionais.
Assim, para além da teoria, todo Workshop terá por base uma intensa actividade experimental do talhe de rochas duras e respectiva utilização sobre vários materiais (osso, madeira, pele animal, carne animal, peixe, etc.) e em actividades distintas (cortar, raspar, esmagar, etc.).



Os suportes produzidos e utilizados durante o workshop, bem como originais arqueológicos serão observados nas aulas de Estudos Funcionais.


Organização:
Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo
Museu de Arte PréHistórica de Mação


Inscrições limitadas a 10 formandos
Formadores: Stefano Grimaldi ; Sara Cura; Emanuela Cristiani; Pedro Cura; José Gomes; Pierluigi Rosina; Jedson Cerezer
Local de realização: Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo (Vila Nova da Barquinha) e Instituto Terra e Memória (Mação)Horário:Segunda a Sexta das 10h às 18h
Duração total: 40 horas
Documentação: Cada formando receberá documentação de apoio (artigos sobre as matérias, fichas de estudo, etc)
Entidades Científicas Responsáveis: Instituto Politécnico de Tomar; Universitá di Trento; Mestrado Erasmus Mundus; Instituto Terra e Memória, Grupo Quaternário e Pré-História do Centro de Geo Ciências (uID 73 FCT)
Inscrição: Mediante o pagamento de uma taxa de 175 euros (150 para estudantes): inclui alojamento e alimentação nas instalações da escavação - há colchões, duche e cozinha; jantar em restaurante; deslocações para as aulas de campo e laboratórios).
A inscrição deve ser feita até 15 de Julho.
Informações:
Telefone 964286144 E-mail:
museu@cm-macao.pt / ciaar@portugalmail.pt
Programa

25 de Agosto
Manhã
(Teoria) Introdução ao workshop (Sara Cura)
(Teoria) O quartzito: características estruturais, formação geológica (Pierluigi Rosina)
Tarde
Estudo das indústrias líticas: princípios teóricos (Teoria: Stefano Grimaldi)
Os sítios pleistocenicos do Alto Ribatejo (Teoria: Sara Cura)
(Prática) Visita ao Sítio Arqueológico da Ribeira da Atalaia e Aquisição de Matérias-primas
26 de Agosto
Manhã
(Teoria) Estudo das indústrias líticas: princípios metodológicos (Stefano Grimaldi)
(Prática) Observação da Indústria Lítica da Ribeira da Atalaia (Paleolítico Inferior e Médio)
26 de Agosto
Tarde
(Prática) Princípios básicos do talhe, Retoque (Stefano Grimaldi e Pedro Cura)
27 de Agosto
Manhã
(Teoria) A analise funcional: princípios metodológicos (EmanuelaCristiani)
Tarde
(Prática) Introdução prática ao estudo dos micro-traços de uso nos laboratórios do Instituto Politécnico de Tomar (EmanuelaCristiani)
28 de Agosto
Manhã
(Prática) Debitagem pré-determinada e formatação (Stefano Grimaldi e Pedro Cura)
Tarde
(Prática) Utilização dos suportes (esquartejamento de um animal) (Jedson Cerezer)
29 de Agosto
Manhã
(Prática) Debitagem pré-determinada e formatação (Stefano Grimaldi e Pedro Cura)
Tarde
(Prática) Utilização dos suportes (trabalho em madeira, osso e pele)

Enquadramento das nossas actividades





Desde meados dos anos 90, no âmbito de projectos de investigação dos quais se destaca o TEMPOAR I e II, que as indústrias líticas do Pleistoceno e Holoceno do Alto Ribatejo têm vindo a ser estudadas sob novas perspectivas[1]. Estes estudos não só trouxeram novos dados para a discussão central acerca da transição de economias de caça e recolecção para o agro-pastoralismo, como lançaram as perspectivas de estudo que a Unidade de Investigação de Indústrias Líticas do Instituto Terra e Memória deve continuar a aprofundar.No âmbito destes projectos o estudo das indústrias líticas, na sua esmagadora maioria em quartzito, revela padrões de comportamento específicos que, pelas suas características ditas «expeditas» e «simples», dificultam a sua associação inequívoca a ocupações do Pleistoceno ou do Holocenos, sugerindo uma convergente e recorrente relação com o território e seus recursos minerais não muito diferente. Por outro lado a experiência acumulada pela análise destas indústrias, na sua esmagadora maioria em quartzito, revelou desde logo algum desajustamento entre as metodologias de estudo que foram estruturadas e aplicadas em matérias-primas distintas.[2]
Para além de estudos tecnológicos, faltam estudos experimentais de referência, quer ao nível do talhe, quer a nível funcional, aplicados aos quartzitos. Falta também uma caracterização mais detalhada da variabilidade do quartzito no Vale do Tejo .

Vista do Tejo em Vila Nova da Barquinha

Neste momento está em curso o Projecto Paisagens de transição – povoamento, tecnologia e Crono-Estratigrafia da transição para o agro-pastoralismo no Centro de Portugal (PTDC/HAH/71361/2006) aprovado e financiado pela Fundação Ciência e Tecnologia. No âmbito deste projecto estão a ser feitos estudo tecnólogicos das indústrias líticas de vários sítios arqueológicos, complementados com estudos experimentais e funcionais. Está igualmente em curso uma caracterização sistematizada dos quartzitos desta região.


Estes estudos são desenvolvidos pela Unidade de Investigação de Indústrias Líticas do Instituto Terra e Memória em Mação e no Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo em Vila Nova da Barquinha.


[1] CURA, Sara (2002b) - Indústria lítica da Amoreira : uma gestão diferenciada das matérias primas, In: Cruz, A.R.; Oosterbeek, L. (coord.), Territórios, mobilidade e povoamento no Alto-Ribatejo. IV: Contextos macrolíticos, Tomar : Arkeos 13, CEIPHAR - Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, pp. 207-246

CURA, S, (2006) - As indústrias (Macro)líticas do Médio Tejo: uma condicionada e/ou eficaz exploração da matéria prima local, In Actas do 1º Seminário de Paleontologia e Arqueologia do Estuário do Tejo, Edições Colibri, Lisboa

Grimaldi S. Rosina P., Corral Fernandez I. (1998). Interpretazione geo-archeologica di alcune industrie litiche “Languedocensi” del medio bacino del Tejo (Alto Ribatejo – Portogallo). In: Cruz A.R., Oosterbeek L., Pena dos Reis R. (coord.) Quaternário e Pré-História do Alto Ribatejo (Portugal Tomar : Arkeos 4, CEIPHAR - Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, pp. 145-226.

Grimaldi S., Rosina P., Boton F. (1999a) - A behavioural perspective on “archaic” lithic morphologies in Portugal. The case of Fonte da Moita open-air site, in Journal of Iberian Archaeology, vol. 1, Porto, pp. 33-57

GRIMALDI S., ROSINA P., CRUZ A. R., OOSTERBEEK L. (1999b) - A geo-archeological interpretation of some “Languedocian” lithic collections of the Alto Ribatejo (Central Portugal). In: Cruz, Milliken, Oosterbeek, Peretto (ed.) Human Population Origins in the Circum-Mediterranean Area: Adaptation of the Hunter-Gatherer groups to environmental Modification, Tomar : Arkeos 5, CEIPHAR - Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, pp.231-243

Grimaldi S., Rosina P., Boton F. (2000) - “Um sítio ao ar livre do pleistoceno médio no Alto Ribatejo (Portugal): Fonte da Moita”. in Actas do 3º Congresso de Arqueologia Peninsular, vol. 2, pp.123-136

GRIMALDI S. & ROSINA P. (2001) - O Pleistoceno Médio final no Alto Ribatejo (Portugal Central): o sítio da Ribeira da Ponte da Pedra. In: Cruz A.R., Oosterbeek L. (coord.), Santa Cita e o Quaternário da Região, Tomar : Arkeos 11, CEIPHAR - Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, pp.89-116.

GRIMALDI, S & CURA, S. (2007), The intensive quartzite exploitation in Midlle Tagus Valley pleistocenic open air sites – the example of Ribeira da Ponte da Pedra in Workshop 15 Records of Proceedings «Technological analysis on quartzite exploitation» , UISPP 2006, sous presse

JAIME A. (2003) - “Contribuition a l’étude de l’industrie de Fonte da Moita (Vila Nova da Barquinha, Alto Ribatejo, Portugal)”. In: Cruz, A.R.; Oosterbeek, L. (coord.), Territórios, mobilidade e povoamento no Alto-Ribatejo. IV: Contextos macrolíticos, Tomar : Arkeos 13, CEIPHAR - Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, pp. 56-110

LEMORINI, C.; GRIMALDI, S. ; ROSINA, P.(2001) – Observações funcionais e tecnológicas num habitat paleolítico: Fonte da Moita (Portugal, centro), In: Cruz A.R., Oosterbeek L. (coord.), Santa Cita e o Quaternário da Região, Tomar : Arkeos 11, CEIPHAR - Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, pp.117-140

[2] Esta discussão foi desenvolvida no Workshop Technological analysis on Quartzite Industries que teve lugar no XV congresso da UISPP em 2006, coordenado por nós (Sara Cura e Stefano Grimaldi)

Quem somos e onde estamos


Câmara Municipal de Mação e o Instituto Politécnico de Tomar criaram recentemente em Mação o Instituto Terra e Memória, onde está sedeado o Grupo “Quaternário e Pré-Histórica” do Centro de Geociências (uID73 – Fundação para a Ciência e Tecnologia). No âmbito de vários projectos de investigação, estão em funcionamento várias unidades de pesquisa sendo uma delas o Laboratório de Investigação em Indústrias Líticas. Entre as várias actividades do laboratório destacamos neste blogue os trabalhos de arqueologia experimental que temos vindo a desenvolver, não só no Instituto Terra e Memória, mas também no Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo.



Atelier de Talhe no Instituto Terra e Memória em Mação


Toda a actividade experimental está ligada à vertente científica do Projecto Andakatu (protagonizado por Pedro Cura). Este é um Projecto de Didáctica da Pré-História (Serviços Educativos do Museu de Arte Pré-Histórica de Mação) através da experimentação, cujas actividades mais relevantes também serão apresentadas neste blogue. Com consciência e noção das diferenças entre a actividade de investigação com inclusão da arqueologia experimental e a experimentação singular ou com objectivos didácticos.

A equipa de experimentação é constítuida por:
Pedro Cura
Sara Cura
Stefano Grimaldi

Emanuela Cristiani
Jedson Cerezer
Tânia Tomázia
Hugo Gomes
Ana Cunha
Jay Mungur Medhi
Renata Barbosa