No passado dia 10 de Maio foi dado o primeiro passo na experiência de monitorização das alterações diagenéticas em crânios de animais ungulados. Em consequência das diversas experiências de arqueologia experimental, nomeadamente, o esquartejamento de animais com recurso a utensilagem lítica de quartzito, foram enterradas as partes cranianas dos animais explorados, com o objectivo de observar as respectivas alterações diagenéticas durante o processo de decomposição.
Fig. 1 – Inicio do esquartejamento a após remoção da pele
O primeiro espécimen exumado corresponde a um crânio e mandíbulas de uma fêmea adulta de Ovis aries (ovelha) que haviam sido enterrados a 28 de Agosto de 2008. O ambiente sedimentar é caracterizado por areias grosseiras, de tonalidade entre o amarelado e o alaranjado, sendo a vegetação composta por amoreiras (a vegetação mais próxima do enterramento é Morus nigra).
Fig. 2 – Vista geral do local onde se efectuaram os trabalhos de experimentação e exumação
Fig. 2 – Aspecto da exumação
Fig. 3 – Pormenor do crâneo e larvas
Durante a escavação foram recolhidas amostras de sedimento da área envolvente ao crânio bem como fora do enterramento, cuja descrição é a seguinte:
Sedimento que colmatava a mandíbula (dentro).
Código Cailleux: P 67/69 (acastanhado)
Sedimento com grande componente argilosa, contem grande quantidade de matéria orgânica (sendo gorduroso ao toque)
Areia muito grosseira (2,00 - 3,00 mm) com matriz silto-argilosa (0,125 - <0,063).
Sedimento junto da mandíbula esquerda.
Código Cailleux: N65/67 (alaranjado)
Sedimento areno-argiloso, com bastante matéria orgânica ainda em decomposição. Quando húmido formam-se grânulos.
Areia grosseira (1,00-0,500 mm), com matriz com componente de material silto-argiloso (0,125 - <0,063).>
Sedimento afastado 2m do local onde estava o crâneo
Código Cailleux: M70/71 (amarelado)
Sedimento friável, com pouca matéria orgânica (algumas raízes e restos de folhas)
Areia grosseira (1,00-0,500 mm) com matriz de areia muito fina e siltes (0,125 - <0,065>
Em breve, faremos in loco a medição da amplitude da variação do pH nos sedimentos por influência dos fenómenos de decomposição da matéria orgânica.
O crânio e mandíbulas foram a posteriori submetidos a um processo de lavagem simplificado com água corrente. A observação macroscópica não registou alterações na superfície dos ossos como consequência dos processos diagenéticos, apenas manchas de coloração mais escura como resultado da diferente percentagem de gordura remanescente em determinadas partes do crânio.
Esta actividade revelou-se importante porque nos ajudará a planificar as próximas actividades, nomeadamente, a estabelecer o período a partir do qual se torna pertinente exumar os elementos esqueléticos para que sejam observáveis alterações tafonómicas. Por outro lado, tornou-se evidente a repetição da experiência noutros ambientes geológicos e sedimentares.
Fig. 4 - Pormenores da lavagem
Fig. 5 – Aspecto do crâneo dois dias após a lavagem
Cláudia Costa, Nelson Almeida, Sara Cura, Hugo Gomes e Pedro Cura