quarta-feira, 8 de junho de 2011

Modificações de superfícies ósseas, termoalterações por contacto com fogo. I – cremação diferencial

Os critérios usados para identificar termoalterações por contacto com fogo são normalmente macroscópicos. Os principais indicadores compreendem mudanças estruturais, índices de coloração, aumento da friabilidade associada à comparência de fissuras e recristalizações, diminuição de tamanho, deformações, fragmentação e desintegração.

Os dados empíricos actualistas demonstram uma sequência de diferentes estádios de tonalidade - castanho, negro, cinzento, branco – com fases intermédias, relacionados com vários aspectos (e.g. tempo de exposição, temperatura máxima atingida, tipo de osso, existência ou não de tecidos moles). Grosso modo, uma possível correlação destes aspectos abarcará modificações desde o ligeiramente queimado, à carbonização e calcinação.

Exemplo de cremação diferencial

Apresenta-se um rádio-ulnaD de ovino-caprino que, após a remoção dos carpais, metacarpo e falanges, foi submetido à acção calorífica de uma fogueira com tecidos moles. Os resultados são interessantes, sobretudo por 3 aspectos:

1 – Denotam-se alterações na porção 5 relacionadas com o contacto directo com o fogo (estádio intermédio com carbonização);

2 – Na face medial/porção 3 e 4 a maior parte dos tecidos moles foram removidos, embora tenha restado uma fina película de tecidos remanescentes e periosteum que protegeu parcialmente a superfície óssea. O resultado foi uma faixa de tonalidade creme com uma mancha castanha (estádio inicial por contacto indirecto e estádio intermédio inicial);

3 – A restante área encontrava-se protegida da acção calorífica directa, não apresentando qualquer mudança de tonalidade devida ao contacto com o fogo.

Este é um bom exemplo das diferenças a nível de coloração passíveis de comparecer num mesmo elemento anatómico submetido ao contacto com fogo.

Nelson Almeida