sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Modificações de superfícies ósseas, fracturação com bigorna: I. Elementos de Bos taurus em estado fresco (final)

Enquadramento e Metodologia

Este post é o último de uma série de 3 relativos ao primeiro grupo de experimentação de fracturação de elementos de B. taurus com bigorna. Apresentamos os dados relativos à análise de um fémur e um úmero, processados nas linhas gerais anteriormente descritas. Ambos os elementos foram fracturados através de contactos nas diáfises, assim como nas partes próximas das metáfises proximal e distal. A metodologia analítica segue as orientações previamente delineadas.

Resultados: fracturação e estigmas de percussão

Foram identificados vários indicadores tafonómicos, salientando-se pelo seu número as perfurações/golpes e os impactos de percussão, seguidos pelas extracções corticais, lascas parasitas e cones de percussão (Gráfico 1).

Gráfico 1: Principais indicadores registados.

Úmero (Figuras 1 e 2): registaram-se 14 esquírolas de dimensões <5cm e 6 fragmentos de dimensões >5cm. Identificaram-se cones de percussão (E1, E6, E8, E15), lascas parasitas (porção proximal, E10, E18, E19). Predominam os impactos de percussão isolados (porção distal, E8, E19) mas também consecutivos (E19). A E17 apresenta duas abrasões transversais (porção 3, face cranial) relacionadas com o uso de bigorna. Evidenciaram-se ainda extracções corticais (E18, E19) e esmagamentos (E16). As perfurações e golpes comparecem paralelos (E4), isolados (E15, E18, E19) ou sobrepostos (E1, E18) (Gráfico 2).

Figura 1: Resultado da fracturação do úmero de B. taurus.

Figura 2: Selecção de alguns indicadores tafonómicos relacionáveis com fracturação antrópica.

Fémur (Figuras 3 e 4): registaram-se 8 esquírolas de dimensões <5cm e 3 fragmentos de dimensões >5cm. Evidenciaram-se cones de percussão (E1, E3), lascas parasitas (E2, E6, porção distal), dois impactos de percussão isolados (porção proximal, E8) e um contragolpe isolado (E11). Comparecem extracções corticais (E7, E9), inclusive parcialmente sobrepostas (porção distal). Não se verificaram perfurações, contudo identificaram-se golpes isolados (E1, porção distal) e oblíquos paralelos (E9) (Gráfico 2).

Figura 3: Resultado da fracturação do fémur de B. taurus.

Figura 4: Selecção de alguns indicadores tafonómicos relacionáveis com fracturação antrópica.

Gráfico 2: Dispersão das perfurações/golpes mensuráveis presentes nos elementos (úmero, fémur) de B. taurus.

Resultados: planos de fractura

Foi possível analisar um total de 28 planos de fractura (úmero-12; fémur-16) que demonstram um claro predomínio de delineações curvas, ângulos oblíquos e superfícies suaves. Porém, os ângulos mistos em ambos os elementos apresentam-se significativos (Gráfico 3). Relativamente aos ângulos dos planos de fractura, predominam os ângulos entre 95º e 120º graus no fémur; no úmero entre os 70º e 95º. Não se registaram medições >145º em nenhum dos elementos. Com <45º registaram-se duas medições no fémur e três no úmero.

Gráfico 3: Análise dos planos de fractura (delineação, ângulo, superfície).


Perspectivas futuras: este post é o último referente a este grupo de experimentação. O próximo corresponderá à ficha de registo de experimentações por fracturação antrópica. Novas experimentações com elementos em estado fresco mas também fervidos estão a ser programadas. Será interessante averiguar qual a diferença (ou não) no que respeita aos ângulos dos planos de fractura, comparando estas experimentações com as pós-fervimento.

Agradecimentos: uma vez mais agradecemos ao Fumeiro da Beira (Mação) por facultarem os elementos ósseos descritos.

Nelson Almeida